A garrafa de Coca-Cola era de vidro, jogar no totoloto só se fosse maior de 18 anos, os autocarros eram cor-de-laranja, na rua podia brincar às escondidas, saltar à corda. Havia o barquinho no lago do palácio de cristal, o eléctrico na avenida da Boavista, estação de comboios na Trindade, os bilhetes de comboio eram de um cartão muito duro, havia tróleis, não havia telemóveis, nem internet, nem telefone sem fios, havia uma passagem subterrânea em s. Bento. No tabuleiro superior da ponte D. Luís podia passar-se de carro, o indicativo do distrito do Porto era 02, havia um barco no Shopping Brasília. Havia os Onda Choc, Spice Girls, Back Street Boys, Excesso e Anjos, comia push-pop, chorei no Rei Leão e na Pocahontas, tinha tazzos e matutolas, andava sempre de sapatilhas e calças de ganga, cantava e dançava a Lambada e a Macarena, via a série Riscos e o Dragon Ball e colava nos amigos luminosos.
Adorei “O Clube dos Poetas Mortos”, guardava os meus dentes de leite, morei num 3º e num 4º andar sem elevador, havia falta de água no Verão e a população era abastecida pelos bombeiros, em Junho ia à Santa Rita e em Agosto ao São Lourenço, adorava puzzles, odiava arroz de tomate e legumes verdes. Adorava a Rua Sésamo e ir para o infantário, a Ema era a minha melhor amiga e fazia anos no mesmo dia que eu, cartolei na 4ºclasse com as cores de nutrição, visitei a minha professora da primária e a minha educadora de infância durante muitos anos, fugia da D. Branca nos corredores, ria-me com a D. Carolina e a sua vassoura a entrarem no balneário dos rapazes, sempre odiei educação física, sempre gostei de ir à praia, trocava postais com a minha melhor amiga nas férias grandes, quando chegava a casa das aulas depois de estar com ela telefonava-lhe, perdi grande parte da minha família até agora.
As melhores saídas eram com os meus padrinhos, a primeira vez que fui ao Gerês tinha 6 anos deitei-me numa rede de baloiço e caí, enjoava em viagens pelo interior do país, a Tiza ensinou-me a fazer o cocas e ainda hoje tenho o que ela me fez assim como ainda hoje o sei fazer,a minha avó paterna chamava-me Lipa e eu ia a correr atrás do lunik, tive um porta-moedas que veio de Marrocos e cheirava muito mal por ser pele de camelo, fui ao Portugal dos Pequenitos e tenho uma vaga ideia disso. O meu primeiro concerto foi Santos & Pecadores, o meu primeiro beijo foi numa noite estrelada, fiz rapel e canoagem e adorei, durante muitos anos não vesti uma única saia ou vestido, as festas eram sempre na casa da Vera, já passei férias no Dafundo. Via o Vitinho antes de dormir mas nunca adormecia antes das 0h, fiz praia em Mindelo, demorei anos a descobrir como se resolvia o problema do pastor, ovelha, couve e lobo, passei Verões inteiros a ir para Espinho todos os dias e contava os girassóis pelo caminho mais a minha avó materna.
Tive alguns namorados mas nem todos quiseram ser meus amigos depois, nunca fui de gostar de uma coisa só porque é de determinada marca, sempre gostei de partilhar as minhas coisas, tive livros da Miffy, recebi escantilhões às prestações, adorava brincar no sotão, o disfarce de Carnaval que gostei mais foi de palhaço. Sempre gostei de Matemática e História, aos 13 anos começei a coleccionar postais, chorei muitas vezes a ouvir Skunk Anansie, adorei "A Lua de Joana" (Maria Teresa Maia Gonzalez) e "A Rapariga das Laranjas" (Jostein Gaarder), desde que começei a ouvir Silence 4 nunca mais parei, sempre gostei da Leopoldina. Aos domingos de manhã colava no Canal 1 a ver desenhos animados, andava sempre com o meu Walkman atrás e depois passei a andar de Discman.
A minha cama sempre foi de casal, mudei uma vez de casa, sempre gostei do meu nome e sempre quis um irmão. Ficava entretida a fazer ponto de cruz nas férias enquanto a minha avó materna fazia crochê, tinha comida de plástico para brincar às casinhas, tive um bonsai, gostei da Expo98, herdei uma máquina fotográfica dos anos 60, adorava os dias em que íamos fazer pic-niques. Atravessava a linha do comboio para ir à mercearia do senhor Correia, às segundas e sextas ia à feira com a minha avó materna mas levava a minha própria cesta, adorava andar de baloiço e brincar com nenucos e barriguitas, parti um braço aos 4 anos e o outro aos 4anos e meio.
Nasci com os olhos e cabelo claros, tenho as orelhas furadas desde os 2 anos, nunca fui operada, ficava lambuzada quando o meu avô materno me trazia pão do Tua, não aprendi a nadar, levei 3 pontos numa sobrancelha antes dos 2 anos. Aos 14/15 anos começei a escrever e aos 17 criei um blog, adorava apanhar flores que nasciam nos muros, tenho raízes no Minho e em Trás-os-Montes e Alto Douro, sempre gostei de dormir e de tirar fotografias. Fiz a colecção de cromos da Pocahontas, Rei Leão e Cães do Bolicao,nunca fui criança de pedir coisas, andei muitos anos com o cabelo cortado à "tijela".
Adorava as minhas barbies, ia a casa da dona Isabel comprar ovos caseiros e ver os pintainhos, as visitas à aldeia dos meus avós maternos eram mais frequentes, comprava o pão na dona Inês, adorava ver os "Jogos sem Fronteiras". A praia era sempre a de Espinho e a barraca sempre ao lado da barraca da dona Palmira e família, da dona Alicinha e da dona Dolorosa. Aos 18 anos começei a usar óculos, sempre gostei mais de lápis de cor do que marcadores ou lápis de cera, visitei um moinho, vi a nascente do rio Leça. Fui voluntária por uma noite no armazém do Banco Alimentar, gosto de corações, sempre adorei gomas.
Via o jogo da oca oca, doutores contra engenheiros, 1 2 3, parabéns e big show sic, sempre gostei de ouvir música andava sempre com um pequeno rádio comigo, já nas fichas que os professores entregavam aos meus pais dizia lá que era muito conversadora. Para o meu tio era a pimpas, para o meu pai a piruças e para os meus vizinhos a camilinha, gostava de ir ao cais de Gaia comer tosta-mista com "manteiga especial".
Isto foi parte da minha infância e da adolescência. O resto da minha vida o futuro o dirá, mas se perguntarem por mim digam “É feliz!”.
[ Hoje faço 23 anos :D ]